VELOSO, José Mariano da Conceição. 1742-1811.
Sobre o autor
O franciscano José Mariano da Conceição Veloso nasceu em São José do Rio das Mortes, atual Tiradentes, em 1742, e morreu no Rio de Janeiro, em 1811. A sua entrada para a ordem franciscana deu-se em 1761, no convento de Macacu, mas logo se transferiu para o convento de Santo Antônio, na cidade do Rio de Janeiro, onde estudou filosofia e teologia. Ensinou geometria no convento de São Paulo, mas destacou-se pelos seus estudos de ciências naturais. Em 1790, seguiu para Portugal com o vice-rei Luís de Vasconcelos e Sousa, de quem era protegido. Em Lisboa, foi nomeado diretor da Casa Literária do Arco do Cego. Retornou ao Brasil com D. João VI, em 1808.
Obra(s)
1. O fazendeiro do Brazil melhorado na economia rural dos gêneros já cultivados, e de outros, que se podem introduzir, e nas fabricas, que lhes são próprias, segundo o melhor, que se tem escrito a este assumpto: Debaixo dos auspícios e de ordem de Sua Alteza Real o Principe do Brazil nosso Senhor. Colligido de Memorias Estrangeiras por Fr. José Mariano da Conceição Velloso, menor Reformador da Provincia da Conceição do Rio de Janeiro, &c. TOM. I, PART. I. Da cultura das canas, e factura do assucar. Lisboa: Na Regia Officina Typografica. Anno M. DCC. XCVIII.
2. O fazendeiro do Brazil, cultivador, Melhorado na economia rural dos gêneros já cultivados, e de outros, que se podem introduzir; e nas fabricas, que lhe são próprias, segundo o melhor, que se tem escrito a este assumpto. Debixo dos auspícios, e de Ordem de sua alteza real o Principe Regente, nosso senhor. E augmentado nesta segunda edição de varias memorias mais sobre o anil, e da cultura, e fabrico do urugu. Collegido de Memorias Estrangeiras por Fr. Jose Mariano da Conceição Velloso. Menor Reformado da Provincia da Conceição do Rio de Janeiro, etc. TOMO II. Tinturaria. Part I.Lisboa. Na Impressam Regia. Anno 1806.
3. O fazendeiro do Brazil, cultivador, melhorado na economia rural dos gêneros já cultivados, e de outros, que se podem introduzir; e nas fabricas, que lhe são próprias, segundo o melhor, que se tem escrito a este assumpto: debaixo dos auspícios, e de ordem de sua alteza real o Principe Regente, nosso senhor. Traduzido de L’ art de Lindigotier de M. de Beuvais Raseu. Por Fr. José Mariano da Conceição Velloso. TOMO II. Tinturaria. Parte II. Cultura da Indigoeira, e extracção da sua secular. Hyacinthum, Purpuro, Coceigera. Anno. M. DCCC. Na Officina de Simão Thaddeo Ferreira.
4. O fazendeiro do Brazil, cultivador melhorado na economia rural dos gêneros já cultivados, e de outros, que se podem introduzir; e nas fabricas, que lhe são próprias, segundo o melhor, que se tem escrito a este assumpto: debaixo dos auspícios, e de ordem de sua alteza real o Principe Regente, nosso senhor. Colligido de Memorias Estrangeiras por Fr. José Mariano da Conceição Velloso. Menor Reformado da Provincia da Conceição do Rio de Janeiro, etc. TOM. II. PART. III. Cultura do Cateiro, e criação da Cochonilha. Anno. M. DCCC.
5. O fazendeiro do Brazil, cultivador, melhorado na economia rural dos gêneros já cultivados, e de outros, que se podem introduzir; e nas fabricas, que lhe são próprias, segundo o melhor, que se tem escrito a este assumpto: debaixo dos auspiciosos, e de ordem de sua alteza real Principe Regente, nosso senhor. Colligido de Memorias Estrangeiras por Fr. José Mariano da Conceição Velloso. TOMO III. Bebidas alimentosas. Parte I. Anno. M. DCCC. Na Officina de Simão Thaddeo Ferreira.
6. O fazendeiro do Brazil, cultivador melhorado na economia rural dos gêneros já cultivados, e de outros, que se podem introduzir; e nas fabricas, que lhe são próprias, segundo o melhor, que se tem escrito a este assumpto: debaixo dos auspiciosos, e de ordem de sua alteza real Principe do Brazil, nosso Senhor. Traduzido do fazendeiro de café da ilha de S. Domingos (The Coffee planter of Saint Domingo By P. J. Laborie L. L. D.) por Antonio Carolos Ribeiro D’ Andrade, Bacharel em Leis, e Filosophia. TOMO III. Bebidas alimentosas. Parte II. Publicado por Fr. José Mariano da Conceição Velloso. Anno. M. DCC. XCVIIII. Na Officina de Simão Thaddeo Ferreira.
7. O fazendeiro do Brazil, cultivador, melhorado na economia rural dos gêneros já cultivados, e de outros, que se podem introduzir; e nas fabricas, que lhe são próprias, segundo o melhor, que se tem escrito a este assumpto. Debaixo dos auspícios, e de ordem de sua alteza real o Principe Regente, Nosso Senhor. Collegido de Memorias Estrangeiras por Fr. Jose Mariano da Conceição Velloso. TOMO III. Bebidas alimentosas. Cacao. Parte III. Lisboa: Na Impresan Regia. Anno 1805. Por Ordem Superior.
8. O fazendeiro do Brazil, cultivador, melhorado na economia rural dos gêneros já cultivados, e de outros, que se podem introduzir; e nas fabricas, que lhe são própria, segundo o melhor, que se tem escrito a este assumpto. Debaixo dos auspiciosos, e de ordem de sua alteza real o Principe Regente, nosso senhor. Collegido de Memorias Estrangeiras por Fr. José Mariano da Conceição Velloso. Menor Reformado da Provincia da Conceição do Rio de Janeiro, etc. TOMO V. Filatura. Parte I. Lisboa: Na Impressam Regia. Anno 1806. Por Ordem Superior.
Menções ao negro e ao escravo
Calcula Edward na Jamaica o lucro de vinte acres de terra, empregados na sua cultura em mil e duzentas libras esterlinas (4:320&000), quase onze mil cruzados, só pelo trabalho de dezesseis escravos. (Página 22 do PDF)
O único meio que, ao meu parecer, repararia um mal tão espantoso, e que talvez faria mudar a figura de todas as nossas colônias, seria o de renunciar absolutamente o modo atual de trabalhar os campos para as sementeiras do índigo, de abandonar as enxadas que apenas entram pela terra dentro algumas polegadas, que requerem os maiores esforços para só produzirem pequeno efeito, e que tem ainda outro defeito maior que é a absoluta necessidade de exigir um grande número de escravos. (pp. 20-21)
Presumo que me não hajam de opor coisa alguma sólida contra esta inovação e reforma; pois que nada mudo da grossura do índigo, por ser esta a única coisa que poderia ofender a sua dessecação perfeita. Também me não oporão: que esta mudança alongaria o trabalho dos escravos. (p. 27)
Concedendo-se ser o produto de cada jeira trezentas libras, e o seu preço não mais que quatro soldos esterlinos por livra, será o total mil e duzentas libras do rendimento de vinte jeiras, produzido pelo trabalho de dezesseis escravos, e de um fundo ou capital de terras e edifícios que rara vez merecerá contemplação alguma. (p. 43)
A mortalidade dos escravos, motivada pelo vapor liquor fermentado (circunstância pasmosa de que sou informado, assim pelos granjeiros desta fábrica, ingleses, como franceses, e da qual atualmente espero o processo), a falibilidade das estações, os estragos dos devoradores insetos, etc. (p. 44)
Os escravos, ou outros quaisquer homens destinados a esta ação, se põem em fileira ou linha em uma das suas extremidades, e recuando ou andando para traz, abrem as covas da grandeza das suas enxadas com duas ou três polegadas de altura, e um pé de distância em todos os sentidos, e as alinham o melhor que cabe nas suas possibilidades. (p. 53)
Uma fábrica ou engenho da grandeza, que descrevemos, prudentemente se não pode prontificar sem estar provida de 250 escravos, 80 bois, 60 bestas muares. É fraco o argumento que se faz contra este cálculo; e vem a ser de que com menor número de negros do que este, já se tem feito 200 barricas de açúcar: porque expomos o estado que produz esta quantidade, em consequência de um termo médio entre a diminuição que pode haver por causa de secas, de estações pouco favoráveis ao rendimento das safras, e os anos favorecidos, em que pelo contrário devem exceder muito o meio termo que tomamos: pois debaixo destas circunstâncias me não posso persuadir que se possa apontar fábrica alguma que trabalhe com um menor número de homens, quer estes sejam escravos, quer sejam alugados. Mas no caso de que exista alguma, não tenho a menor dúvida de afirmar que ela se acha em má administração: porque, que vale, e que manejo pode ser pior do que aquele, em que se dá um maior trabalho aos escravos do que se devera, vindo por ele a fabricar-se o capital, por amor do aumento de uma renda precária, ou lucro anual. (p. 79)
Em Jamaica, o modo usual de calcular por termos gerais o valor dos ganhos de um engenho de açúcar, é conceder dez libras esterlinas anualmente por qualquer negro velho ou moço empregado nesta casta de lavoura; e seguindo este cálculo, as rendas de M. Bekfort, tendo 2533 negros, haviam de chegar a 25330 libras esterlinas. (p. 86)
Ele vê crescer esta semente imediatamente, enquanto fica esperando outro tempo tal para continuar a sua plantação. Mas se pelo contrário as secas prosseguem, fica exposto ao perigo e risco de ver perder toda a sua semente; porque se aquecerá e se endurecerá pelo grande calor; e também porque a este mesmo tempo, caindo algumas gotas de água nesta estação, nada mais farão que molhar a terra e germinar o grão, o qual, não tendo força de a romper, apodrecerá, causando uma perda tanto maior ao fabricante, quanto ela abrange o tempo perdido dos escravos, um retardamento considerável as suas rendas, e finalmente o preço das sementes que não deixa de ser alguma coisa em razão da quantidade que se tiver plantado. Em Leogane, (hoje Porto do Príncipe) se tem avaliado em quase meio milhão a perda causada por este fatal contratempo. (pp. 89-90)
Em segundo lugar. Objeta-se que a natureza do clima é tal, que não admite lavoura de cavalos que aqui se recomenda, porque as chuvas são muito terríveis pela sua impetuosidade, e o calor continuado do sol tão forte e penetrante, que aperta os terrenos de tal modo, que se faz impossível rompê-los pelos instrumentos enunciados. A esta respondo, apelando para o senso comum de qualquer pessoa inteligente, a que julguem se acaso o trabalho feito por cavalos, não será sempre mais efetivo do que aquele que se faz pelos fracos esforços das enxadas nos braços dos negros? (p. 123)
O acontecimento do negócio pode muito bem ser um argumento muito extraordinário do melhoramento que plenamente se lhe conheceu. O todo eram terras, edifícios, negros, etc, que foi pago por cem mil libras. (p. 137)
Resulta disto uma perda tanto maior para o fazendeiro, quanto compreende o tempo perdido pelos escravos, um retardamento grande em os rendimentos e, por fim, perde o custo dos seus grãos, que não deixa de fazer um grande objeto, conforme a quantidade que tiver plantado. (p. 216)
O fazendeiro que possuir quatro escravos e duas bestas, e tiver cinco acres em cultura desta planta, se pode consequentemente avaliar, por um juízo prudente, que faz mil arráteis cada ano, que importarão vendidos a 6 xelins (1&080) esterlinos, a 300 libras (1:080&000). (p. 249)
De ambas as índias nos vem outras espécies de índigos menos conhecidas, e que comumente trazem o nome das diferentes fábricas ou lugares em que se fabricaram, tais como o de Java, Sarquesse, dos quais já falei; de Jamaica, etc. (p. 301)
O Urucuzeiro floresce em dezembro; colhe-se em abril: transporta-se em cestos a cabeça dos escravos. (p. 366)
2.
Quatro negros ferem sem interpolação a superfície do liquor com estes instrumentos, e excitam novamente uma grande escuma, que algumas vezes chegam a oprimir os mesmos instrumentos de bater; mas dão-se meios muito simples para as destruir e dissipar, e, quando pouco, de as moderar e diminuir. Sabe-se, como já adverti acima, que este movimento rápido prolonga todas as vantagens da fermentação, sem consentir que este extrato chegue ao estado de pútrido. (pp. 5-6)
Dão-se casos em que será conveniente demorar o corte, e vem a ser quando o índigo por causa das muitas chuvas, cresce de pancada, e que o tempo mostra ser bom: oito dias favoráveis são bastantes a dar-lhe corpo e dissipar lhe as dificuldades que se poderiam oferecer a fermentação; sem esta precaução embaraçaria ao melhor mestre: também acontece muitas vezes que o excesso das chuvas nos põem no caso de rejeitar um corte inteiro; porque, não tendo o seu grão corpo, se torna inútil; então para se não ocuparem os negros de balde, se faz cortas a erva sem demora, por não retardar o corte próximo: isto de ordinário acontece quando se corta, pela primeira vez, na estação húmida. (pp. 81-82)
A proporção que os negros abrem as covas, as pretas lançam as sementes que trazem em cuias: e as que as seguem, cobrem com rodos as mesmas covas de uma boa polegada de terra. (p. 88)
Para se cortar o índigo, se servem de grandes facas curvas por modo de foucinhas, (á exceção de não terem dentes). Corta-se a erva uma boa polegada acima da terra, e se formam feixes, quantos sejam bastantes para a carga de um negro; e se põem em balandras, que são pedaços de panos grossos do comprimento de uma vara e da mesma largura, para serem levados, e em cada canto destes se põem atilhos para os prenderem, e serem deste modo conduzidos com maior segurança, assim a erva miúda como a grande. (p. 91)
Índigo de África
Os negros do Senegal tiram anil de uma planta, a que eles chamam Gougue. Despontam com as mãos os ramos da planta: pisam a folha, até que se reduza a uma massa fina, da qual compõem pequenos pães que secam a sombra. (p. 129)
Os ilheus de Madagascar tiram o seu Índigo de uma espécie de giesta, que os portugueses chamam erva de anil. Pisam as folhas com os ramos tenros, e delas formam pães de quase três libras que secam ao sol. Quando querem tingir, moem um destes pães, e lançam este pó em panelas de barro, e as fazem ferver certo tempo. Deixam nas esfriar, e infundem nelas sua seda e algodão, que quando se tiram, são de um belo azul carregado. (p. 130)
Dizem também que perto do Cairo se acha uma erva chamada nil, que dá um belo Índigo. (p. 130)
A cor, porém, do franco é de um amarelo escuro ou denegrido, puxando alguma coisa para verde, algumas vezes para branco, quando não estão bem maduras. A do bastando é negra, estando bem maduras, e este negro também puxa para verde, antes de bem maduras. O grão do franco é algum tanto mais grosso que o do bastardo. (p. 143)
Estando a alvenaria bem seca, se faz uma argamassa de cal e pó de tijolos passados a peneira, e com ela se lhe forra todo o interior e as bordas dos tanques. Pule-se a obra, a proporção que se seca, com pedaços de tábuas delgadas, ou com cascos lisos, ou seixos de tio: o que requer o trabalho de muitos negros juntos, para apertarem a argamassa a proporção que se for secando, e impedir que rache. (p. 152)
A medida que os negros fazem os buracos, as pretas com cuias cheias de sementes as põem em cada cova, e outras as acompanham, cobrindo-as com uma boa polegada de terra. Sete para oito grãos bastam, sendo índigo franco, menos se for o bastardo; mas não se contam que, sendo o tempo mui precioso, procura-se somente adiantar o trabalho, e aproveitar da chuva, porque, secando-se a terra, se não planta mais. (p. 215)
Mas novamente se tem construído máquinas muito mais convenientes com rodas dentadas que movem as alavancas ou batedores com grande regularidade, e poupam o trabalho de muitos negros. (p. 245)
Mas novamente se tem construído máquinas muito mais convenientes com rodas dentadas que movem as alavancas ou batedores com grande regularidade, e poupam o trabalho de muitos negros. Sendo tudo posto em movimento com um único cavalo ou mula, e um destes trabalhavam mais em hora e meia de seis negros podiam executar em seis, e assim satisfaziam muito bem as despesas de sua ereção, e amiudadas vezes reduziam a tinta imperfeita a formar o grão que de outra maneira dificultosamente se poderia conseguir. (p. 245)
Esta mercancia preciosa é o principal ingrediente conhecido para tingir de azul belo; e parte alguma do mundo produz melhor anil que o interior, ou sertão da Jamaica. Ao que se deve ajuntar, que não faz grande volume no seu carreto; visto que poucos barris e pequenos, que uma besta pode carregar por péssimos caminhos, podem conter, ou trazer uma porção ou carga de grande valor. Julgam-se bastantes quinze negros para a cultura de vinte acres; e vinte e cinco negros para a de cinquenta. Donde a cinco acres cabem quase quatro negros; o que mostra que se pode preencher este pequeno capital. (p. 248)
A carga de um negro, se a planta for boa, dará um arrátel de Anil bom; e supondo uma besta alugada quatro vezes, a última será igual a seis arráteis. O fazendeiro que possuir quatro escravos e duas bestas, e tiver cinco acres em cultura desta planta, se pode consequentemente avaliar, por um juízo prudente, que faz mil arráteis cada ano, que importaram vendidos a 6 xelins (1080) esterlinos, a 300 libras (1:08000). (p. 249)
O terreno e clima da Costa da África na verdade convém perfeitamente a esta planta, mas os negros deste país não sabem fazer, como o fazem os de nossas ilhas. Em Dazhomé, bairros situados no interior de Guiné, e onde o Indigoeiro é sumamente comum. Os seus naturais o não aproveitam. Os negros do Senegal fazem Índigo de uma planta, a que chamam Gangua. Tiram a mão as pontas dos ramos, pisam as folhas, até reduzi-las a massa fina, e a fazem em pequenos pães que secam a sombra. (p. 261)
Fora estes dois processos, mui vários em suas circunstâncias, ainda se dá mais outro usado nas Índias, que consiste em triturar e umedecer as folhas desta planta, de que se forma uma massa, ou espécie de pastel, que também tem o nome de Índigo. Já se viu, que desta maneira o fazem os negros do Senegal. (pp. 262-263)
A maior parte dos negros arranjados em uma única linha com sua enxada fazem juntos covas pouco profundas com um só golpe da mesma. Marcham recuando e indo alternativamente da esquerda à direita, e desta a outra. (p. 273)
A maior parte dos negros arranjados em uma única linha com sua enxada fazem juntos covas pouco profundas com um só golpe da mesma. Marcham recuando e indo alternativamente da esquerda á direita, e desta a outra. A este tempo outros, postos por diante dos mesmos, semeiam o grão com a mão, sem os contar, de oito a doze em cada cova. Ocupam-se nisto os negros velhos e fracos de ambos os sexos. Há uma terceira linha de outros que cobrem os grãos com um rodo ou vassouras feitas de propósito. Assim se semeiam e enterram quase no mesmo instante. Requer ser mais, ou menos coberto, conforme for a índole do terreno. (p. 273)
Cada negro curvado em terra, e provido de uma espécie de faca curva, ou foucinha, arranca as ervas estranhas, conduzindo com cuidado as da planta, que é o objeto do seu trabalho. (p. 275)
Mas a veracidade destes insetos é algumas vezes mais forte que cem braços juntos, e apesar dos esforços do proprietário, para apressar a colheita, favorecida pela atividade dos negros, uma parte da erva que cobria o seu campo, fica sendo presa destes insetos. (p. 277)
No momento em que se tiram os raminhos da cepa, se deitam em panos, que se chamam balandras, de uma figura quadrada, que se prende pelas quatro pontas. Nestes em molhos ou feixes, levam a erva aos tanques, ou por negros, ou por animais em pequenas carretas. Cumpre, quanto se puder apressar o transporte do campo a Indigoaria, ou fábrica, e não apertar e machucar a erva nas balandras, porque esta planta fermenta com facilidade, e por pouco que a disponham, a fermentação principiará, ainda antes de a porem nos tanques. (p. 279)
Ao depois pensaram unir quatro baldes em cruz, fixos em uma vara, que um só negro pode fazer mover por meio de uma corda presa na extremidade exterior da báscula. Algumas vezes se precisam dois negros; mas como trabalham um ao lado do outro, e como movem o mesmo instrumento, o efeito, produzido então pelos baldes, é necessariamente uniforme. (p. 287)
Devem-se procurar muitas vezes os indícios na cor do líquido, quando a sua agitação na taça lhe oferece um grão imperfeito, ou que se forma com dificuldade. Tive em S. Domingos um negro Indigoeiro, que, antes de soltar o tanque, provava a água quatro ou cinco vezes, especialmente, faltando-lhe os sinais ordinários do grau justo de fermentação, lhe pareciam fracos ou equívocos; o sabor particular que encontrava nesta água era para ele um sinal mais justo que todos os outros. Sempre acertava, e quando os meus vizinhos perdiam as suas tancadas, o meu negro tirava um grande partido da mesma erva madura, e cortada no mesmo tempo. (pp. 291-292)
Sabe-se estar maduro o grão, e que tem chegado a sua cor perfeita, quando o folículo que os contém se abre de si mesmo. Bastam que um ou dois se acham, para se haverem de colher todo o ramalhete ou cacho, que de ordinário tem oito ou dez, e algumas vezes mais, segundo a idade da árvore, e a bondade do terreno. Os negros maiores e menores se ocupam em abrir as causelas, que o não estão suficientemente, apertando-as entre os dedos, e fazem sair com a unha do polegar os grãos que estão dentro, que põem em cuias ou a metade dos cabaços. (pp. 349-350)
Tirado o Urucú da bateria, não se deve logo fazê-lo em pão, mas sim estendê-lo em uma táboa a maneira de uma massa chata, deixando-o esfriar por oito ou dez horas. O negro, que o maneja, e faz os pães, deve ter as mãos levemente esfregadas de manteiga fresca, ou de unto, ou de azeite. (p. 356)
3.
Uma vintena de negros basta para este cuidado em uma plantação de 50 acres, e para dar que fazer á manufatura; ainda lhes sobejará tempo para plantarem mantimentos para o seu sustento e de seu senhor. (p. 75)
A palavra indigoaria serve a designar em geral um terreno em que se cultiva o índigo com edifícios, vasos, negros e utensílios próprios a sua fábrica, e em particular se aplica aos tanques de pedra ou alvenaria destinados a este trabalho. (p. 91)
Convém supor que se levanta ao depois sobre as paredes Y Est. 4 fig. 5 da bacia uma alvenaria ou cantaria de 2 pés de alto, para servir de reborde a este vaso, o que lhe dá no seu total 5 a 5 e meio pés de alto, principalmente quando se servem de negros e de baldes para baterem o tanque; porque se diminuem as bordas de 6 polegadas, quando se fazem mover com rodas. (pp. 99-100)
Tendo-se acabado estes trabalhos, se faça por cima do reposadouro um Ajoupa (rancho) fincando-se forquilhas em torno, para por o indigo tirado, e os negros em abrigo. Alguns vizinhos fazem este Ajoupa ou Rancho frande de sorte que por baixo caibam o batedouro e mesmo o infundidouro. (p. 104)
Prende-se o balde por uma chavilha, ou torno, que atravessa o fim da vara; ao depois se põem esta vara entre os ramos do candieiro N fig. 1 Est. 4 posta em a altura do apoio, e se segura por meio de uma chavilha de ferro que atravessa tudo, e deixa ao negro que tem o cabo a liberdade de mergulhar e levantar o balde. (pp. 107-108)
Ainda que este expediente pareça ser útil, todavia não chega ao que se usa felizmente para destruir a teia, de que o bicho queimador se cobre no topo do Indigo. Consiste em fazer tomar a cada um dos negros uma vassoura de três pés de comprido, composto de ramos folhados, e de lhes fazer passar esta vassoura por cima do tronco dos novos Indigos, estando o sol em toda a sua força, quero dizer entre as 11 e as 12 onde a terra é queimadora, e a terra está ardente, porque assim que a lagarta é ferida pelo violento abalo desta operação, cai na terra, cujo calor em menos de duas horas a mata. (p. 117)
Quando se conhece a causa do langor, e do seu definamento, se cava a terra em os lugares, nos quais os negros enchem os seus cestos, e os vão despejar em algum charco ou vala cheia de água. (p. 118)
Os mesmos pretos preferem este trabalho a outro qualquer, apesar da assiduidade, e das contínuas vigílias que eles por seus turnos devem fazer junto as moendas e caldeiras do açúcar, só pelo pequeno proveito da guarapa, que se lhe distribui todos os domingos, e que os outros negros compram para se regalarem com ela, misturando lhe uma certa porção de água, para fazerem a bebida a que chamam rape. (p. 119)
Os distritos de S. Domingos em que vi manufaturas mais florentes deste gênero são, Aquino, Nippes, Aria haix, o Boucassin, as Vasos, Mirbalais, as Gonaives, e Artebonite, onde se acham tão grandes, que ocupam de 500 a 600 negros. (p. 119)
O Indigo bastardo difere da precedente espécie, sobretudo, pela superioridade da sua grandeza: nasce em toda a parte, mas sempre menos alto em uma terra ingrata. A sua folha de mais longa, e mais estreita que a do Indigo franco, menos grossa, e de um verde muito mais claro, um pouco mais branco por baixo: o reverso dela é guarnecida de pelo sutil, picante, fácil em despegar-se, e incomodo aos negros, que o carregam. (p. 120)
Algumas vezes também se vem obrigados pelo excesso das chuvas, sobretudo na primeira estação, de lançar todo um corte; ou porque a sua grã, não tendo bastante corpo, se dissolve nos baldes; ou porque estas chuvas, vindo abater o Índigo em seu estado de madureza, lhe fazem cair todas as suas folhas, de modo que só ficam as vassouras: então por se não ocuparem inutilmente os negros, se faz cortar a erva sem diferir, para se não retardar o seguinte corte. (pp. 121-122)
Estando o terreno preparado, os negros A fig. 2. Est. 9, cavam com o canto da sua enxada fig. 4 Est. 9, burados D fig. 2 Est. 9, profundos de suas polegadas, e distantes uns dos outros 8, nos quais se põem 4 a 5 grãos de Índigo, que se cobrem com o pé; monda-se em tendo quatro dedos travessos de altura: repetem-se as mondas as vezes que forem precisas. No fim de 4 meses a flor cai, e dá lugar a vagem. (pp. 128-129)
Quando se conhece pelos sinais acima, que está bom para se colher, se fazem trazer os negros em cestos para o lugar onde se devem ajuntar. (p. 131)
Quando se teme um tal sucesso, se mandam os negros ao lugar da plantação, onde os vão esmagando sem cerimônia com os dedos. (p. 133)
Quando se está em termos de cavar os negros A fig. a Est. 9, se dispõem em uma mesma linha á testa de um terreno, medido por todos os lados a cordel, e marchando para traz, ou recuando; fazem pequenas covas D fig. 2 Est. 9, com o ângulo do ferro do seu instrumento, distantes de 5 a 6 polegadas para todos os lados, de profundeza quase duas polegadas, e em linha reta, sendo possível, desde o ponto de que sairam; mas os negros raramente serão capazes de observar esta regularidade tão própria a facilitar a monda ou capina. Enquanto os negros abrem as covas, as negras B fig. 2 Est. 9, com uma cuia (a metade de um cabaço) C fig. 9 Est. 9, cheia de grãos lhe vão deixando cair de 5 a 6, e sem medo de erro, as cobrem no mesmo instante, passando lhe o pé por cima, o que deixa menos incerteza do que quando se fazem cobrir por outros, com a plaina cuja expedição na verdade é mais pronta. (pp. 139-140)
Certos habitantes, para economizarem o seu grão, e prevenirem a negligência dos negros a este respeito, o misturam com cinza ou areia fina; este último é mais cômodo para as negras, que distinguem e separam melhor o número que julgam conveniente repartir. De ordinário se empregam a metade dos negros a abrir as covas, e outra metade em plantar o grão. (pp. 140-141)
Não se pode dispensar de falar neste lugar de um instrumento usado em certos distritos para alinhar, e aligeirar a plantação. Este instrumento de um ancinho A fig. 10, 11, e 12 Est. 9, armado de 9 para 11 dentes, R fig. 11 Est. 9 de ferro direitos, apartados uns dos outros quatro polegadas: a dianteira deste ancinho se compõem de dois ramos E fig. 12 Est 9, apartados pé e meio, cujas extremidades atravessam uma barra, em a qual de aplicam 3 negros G, fig. 1 Est. 9; a parte trazeira deste ancinho apresenta dois cabos H separados, entre os quais se põem um quarto negro 1, fig. 1 Est. 9, que dirige a marcha deste instrumento. (p. 141)
Estando o ancinho no fim deste lado do pedaço da terra, se volta, pondo-se o primeiro dente no pequeno rego que lhe fica mais perto. Continua-se a lavrar deste modo toda a terra, que por este meio fica toda cavada e pronta com poucos negros, se fosse possível estabelecer sobre este ancinho o mecanismo de algum dos semeadores, inventados por diferentes autores celebres, se poderia dizer que nada faltava a perfeição deste instrumento, e a expedição deste trabalho. (pp. 141-142)
O cabo desta vassoura deve ser muito comprido para que os negros lhe façam correr um grande espaço, e se não abaixem muito. (pp. 142-143)
Como os negros não guardam simetria alguma, quando abrem as covas para a plantação do Índigo, pisam-no, quando se quer montar, porém, se o terreno não tiver pedras, não lhe farão dano; porque a nova planta se tornará a levantar, ao depois de pancada. (p. 145)
Esta obra, tão frequente, é muito penosa aos negros, que são obrigados a estarem sempre com a cabeça baixa, para se aplicarem a este trabalho que se continua, até que o Índigo esteja em estado de cobrir a terra com a sua sombra. (p. 146)
Estando cortado o índigo em algumas fazendas, se usa das balandras para se conduzir assim a pequena, como a grande erva: estes balandrás são porções de serapilheira, ou pano grosso, do comprimento de uma vara, e da mesma largura, para que sejam quadrados, em cujos cantos se põem atilhos: cada balandrão cheio faz a carga de um negro. (p. 147)
E por isso se devem acautelar as consequências que serão mui prejudiciais a fábrica, fazendo levar sem demora estes feixes pelos negros; mas nas grandes fazendas, onde as indigoarias muitas vezes estão apartadas do lugar, em que se tem cortado a erva, e onde as vezes se fazem 400 ou 500 feixes, cujo transporte seria tão longo, como trabalhoso, se carregam estes feixes sobre carroças de bestas muares [...] (p. 147)
Todos os moradores que tirarem água de um mesmo rio, serão obrigados de enviar uma certa quantidade de negros, proporcionada a quantidade de água que tomarem, para lhe alimparem o leito, os tanques, os canais gerais, mas os tanques e canais particulares, serão entretidos, segundo as mesmas proporções, unicamente pelos negros, dos que se assignarem para tomarem água neles. (p. 150)
Basta saber que cada negro de serviço pode custar 1,800 a 2,000 libras, tudo de dinheiro americano, que se reduz a dois terços do seu numerário valor do de França. (p. 176)
Cada tancada de 40 feixes ou cargas de um negro, no bom tempo, pode dar 30 arrateis de Índigo, que presentemente se vende em França por 6 até 11 libras da nossa moeda (10,800 a 19,800, o que dá o maior preço a 660 o arratel). (p. 176)
[Nota de rodapé] (1) [planta víveres] Termo usado, que compreende todas as plantas de que os negros tiram os seus alimentos. (p. 180)]
A respeito dos lugares para víveres, fig. 1 Est. 6, regam da mesma sorte que o Índigo, permitindo o terreno. Advirta-se que se está no costume de repartir terras aos negros, para plantarem víveres para si, e para as suas famílias, e se lhe devem distribuir as que não forem nem muito secas, nem muito úmidas: ou também dar-lhe nos altos terrenos para as suas culturas no tempo das chuvas; e outras em terras baixas para o tempo das secas. (p. 181)
Vindo o tempo do corte, convém que o fabricante visite todas as Indigoarias, para conhecer do estado em que se acham; e certificar-se de que não vazem, seja pelas torneiras, seja pelas rachas, se os mourões das chaves, e os dos baldes estão sólidos: faz-se também revisão do andaime e fig.2. Est. 4; do poço, e do seu caixilho: arruinada qualquer das suas vigas, basta para matar um negro. (pp. 181-182)
M Negro que pega no balde para vasar-lhe a água no canal.
N Nedro que faz subir o balde preso em um dos braços da alavanca. (p. 234)
E Negros que pilam as siliquas. (p. 239)
R Lugar para os negros plantarem os víveres para seu sustento. (p. 241)
N Negros que cortam a erva.
O Negra que enfeixa a erva.
P Negro que carrega um feixe de erva para o tanque (p. 252)
S Negro que volta a água para o quartel q por meio da almofada ou embrulho y que ele alonga através do terreno. (p. 256)
S Negro que volta a água para o quartel q por meio da almofada ou embrulho y que ele alonga através do terreno. (p. 256)
4.
A sua fatura é fácil, o que se convence, pelo que se expôs. Finalmente, lucra-se em as suas colheitas. Que se precisa de fora para o seu estabelecimento? Nada. Que terras se lhe pode sacrificar? As piores, menos as encharcadas. Que negros se lhe podem empregar? Os mais débeis, os enfermos, velhos, mulheres pejadas, crianças. Que trabalhos grosseiros se terão de fazer? Mondar a faca as hervas da nopalaria: todo o negro é capaz disto. Que trabalhos se hão de fazer quando as cochonilhas mais parem? Apanha-las, meter em ninhos, fixa-las em os nopaes: eis-aqui a cochonilha semeada: colhe-la, mata-la em água quente, estendê-la ao sol, para a fazer secar: eis aqui todo o trabalho e nenhum é penoso. (p. 132)
Em Porto do Príncipe um negro cabelereiro, cozinheiro doméstico se aluga por menos de 45 libras ou cinco piastras gordas, que fazem cinquenta e cinco reais de prata, o que quer dizer, por menos de dois reais de prata por dia. (p. 191)
Ora, comendo ele uma galinha por um real, e tordilhas por meio real, ou pão espanhol por dia, sem contar o seu chocolate, o seu sustento é muito melhor e mais regalado que o do negro (1). (pp. 193-194)
[Nota de rodapé] (1) É preciso supor que o índio, que come galinha, esta a cria ele mesmo; e que nunca tem necessidade de a comprar. Os negros da colônia estão no mesmo caso. (p. 194)
Qual é o sustento do negro em S. Domingos? É o inhame, a batata, a banana, a mandioca. Somente se dá a qualquer negro doméstico meio real para comprar esta qualidade de víveres: ora, meio real é mais baixo em Porto Príncipe trinta por cento que em Guaxaca; pois que em Porto Príncipe ele é a 22 da piastra gorda, e em Guaxaca a 16. E assim, quando o que é falso, um índio, um homem livre de Guaxaca só vivesse de um meio real de prata por dia, o seu sustento seria mais caro realmente que o de um negro da colônia francesa de S. Domingos. (p. 194)
Mas o sustento de dois negros não chega ao fazendeiro de S. Domingos a meio real: porque somente nas cidades se dá dinheiro aos negros domésticos para comerem: e que, geralmente, os negros cultivadores se sustentam pelos muitos víveres que o terreno produz. (p. 194)
Está consequentemente demonstrado que o negro de S. Domingos vive infinitamente melhor com seu senhor que o índio livre de Guaxaca, o mais miserável: o preço de sua mão de obra é muito mais baixo. (p. 195)
Mas para que fim se quer estabelecer uma comparação entre o pobre índio livre, e o negro escravo de S. Domingos pelo preço do sustento, e o da mão de obra com o desígnio de examinar se se pode sustentar a concorrência com os Espanhóis na criação da cochonilha fina? (p. 195)
O índio livre, e que tem bens, tem lucro em cultivar a cochonilha. Isto não é tudo. O governador da província, o da cidade, o alcaide maior, o seu ajudante, ou tenente, o índio ou o negro Alcaide ordinário tem proveito em a comprar, e em a monopolizar do cultivador por avances usuários e pérfidos, e por compra prematura e antecipada. (p. 195)
5.
A importância deste objeto para o comércio é tata, quanta talvez não acertarei a dizer, por me faltarem dados próprios para a poder calcular; mas seguramente posso afirmam, fundando-me nos mesmos autores que copio e traslado, que, apenas descoberto na Ásia na época em que prefixam o seu descobrimento, foi tão grande a sua aceitação, que deu ocasião a todas as lides já políticas, já religiosas que se excitaram entre os mesmos asiáticos sobre o seu uso; que apenas se passou pelos venezianos o seu conhecimento à Europa, esta o abraçou com tanta ânsia, que parecia confluírem para a Arábia todas as riquezas, o que obrigou a dizer a João Ray, a pouco mais de cem anos, que a Arábia não só era feliz, mas felicíssima; pois com o seu café atraía imensas riquezas de todo o mundo: inde immensae opes, ut fere totius orbes divitiae in eo confluant; que se faz incrível o número das casas de café, não falando em constantinopla, Londres, e Paris, pois só em Berlim, por um édito régio, anda o seu gasto por 700 para 800 mil escudos; e na pequena cidade de Mons em França passa de cem mil arráteis, o que se vende ao povo anualmente, segundo Eloy; que as três nações Europeias, que mais se empenharam na cultura desta planta foram os ingleses, franceses e holandeses; os primeiros entre estes esperavam em 1797 a colheita de 16 milhões de arráteis, e tinham 20 mil escravos aplicados a este trabalho, que é 18 vezes mais do que a colheita de 1783, e 7 vezes mais que a do último ano, e nos segundos andava a colheita em 70 milhões, antes da rebelião dos escravos; que tendo estado na última década deste século todas estas colônias, cultivadoras do café, perturbadas com a desastrada guerra, e ainda os mesmos Árabes, não pode deixar de ser imenso o vão que há na Europa a encher deste gênero [...] (página 12 do PDF)
P. Sustento dos escravos no 1º ano, antes de colherem mantimentos, fora outras desprezas anuais, carregadas adiante............ 500/total:10960. (p. 26)
Observações pertencentes a cultura do café, em a ilha de S. Domingos, e do seu aumento provável em Jamaica, no caso de não ser abolido o negócio dos escravos pelo ato do parlamento, por Samuel Vaughan Esq. (Subtítulo, p. 29)
A parte francesa da Ilha de S. Domingos exportou em 1770 cinco milhões de arráteis de café; em 1784 por causa de um prêmio de 40 L. por tonelada, que se concedeu aos navios que lhe levassem escravos; e em 1786 por outro prêmio de 200 L. por cabeça de escravo, que se transportasse a esta Ilha. Chegou a soma destes a aumentar-se anualmente 12 a 15 a 25 a 30 mil, e por efeito deste aumento de africanos trabalhadores, a colônia fez um progresso mui rápido em todas as suas culturas, mas creio que a do café a tudo excedeu; porque a exportação deste artigo em 1789 se aumentou acima de 76 milhões de arráteis, que avaliadas pelo preço atual (90 xel. por quintal) chegou L. 3:420000. (pp. 29-30)
Estavam nesta situação, quando principiaram os distúrbios de S. Domingos. São passados 16 meses do princípio desta rebelião, e pelas respostas dadas de muitas freguesias, se mostra que 21011 escravos se acham empregados na cultura do café em Jamaica. Eu quero supor consequentemente que um quarto destes podem ser ocupados em outros objetos que tenham conexão com o café; e que hajam de ficar 15759 escravos aplicados somente em sustentar este artigo, o qual, segundo o cálculo comum, quando as plantas estiverem no seu perfeito crescimento (em 1797) poderão dar o rendimento de quase 16 milhões de arráteis, que é dezoito vezes mais do que rendia em 1783, e sete vezes mais do que no último ano pode-se ainda acrescentar a isto [...] (p. 32)
Mas este novo e importante comércio depende absolutamente da importação dos escravos. O aumento da cultura do café, ao ponto que aqui se aconselha, é na ocasião presente de uma particular consequência por outros dois motivos, ou pontos de vista 1.º; porque aumentará o número da classe mediana de brancos, os quais ainda que não sejam ricos demasiadamente, para viverem em um país distante [...] (p. 33)
As fazendas ou sítios dos montes, sendo mais saudáveis, geralmente aumenta mais a população dos pretos do que as terras baixas. A primeira circunstância aumenta a nossa segurança, tão necessária presentemente; e que, em todos os outros períodos, debalde se esperaria conseguir por outros meios. 2.º porque manifesta um plano da abolição do comércio de escravos, o que em breve tempo por causas naturais, pouco a pouco se conseguiria, sem dar motivos de justa queixa a qualquer corporação humana. (p. 34)
Hoje isto está mudado e bem diferente
(*) Cito o este por preferência, por ser um dos primeiros que o plantaram, e por se fazer uma fortuna tão rápida que foi admirada de todos; mas os pretos, que lhe fiaram, não contribuíram pouco; porque com um pequeno número destes, pode-se os dois primeiros anos plantar e entreter seis vezes tantos cafezeiros, quantos se poderiam colher. Ora, se quando eles são rendosos se afiançam escravos suficientes para os colher, não será dificultoso de se enriquecer: com este avanço se empreende o dobro, e sucessivamente se vem em estado de fazer uma fortuna rápida. (Nota de rodapé, p. 37)
do ano de 1753; porque sem dinheiro de contado nada de escravos; e ainda por preços bem exorbitantes, a 1500 para 1600 livras cada um, para isto é preciso dar um terço a vista, e o mais fiado, daí a 3 meses debaixo de boa, e suficiente calçam, de modo que se faz preciso que o principiante tenha uma grande economia, para poder adiantar-se; e por pouca família que tenha, pode contar o trabalhar até a velhice. (pp. 37-38)
Mas lisonjeiam-se sempre, e o francês é mais engenhoso que nação alguma em engrossar os objetos; pois nenhuma goza de uma imaginação mais rica que eles. Apenas calculam o rendimento de um certo número de pe´s de cafés, cultivados por uma certa quantia de escravos, quando já se contemplam senhores de uma renda fixa, copiosamente proporcionada as suas faculdades; porque tudo julgam proveito, e nada perda. E no fim da conta o que acontece? O mesmo que ao mercador de vidros, que se refere no livro Mil e uma noites. (p. 39)
É fácil de se conhecer, pelo que se acabou de dizer que o terreno dos morros não é de longa duração; e por isso para se lhe prolongar o gozo, se faz indispensável proibir aos escravos barbechar, ou arrancar as raízes das árvores que lastram sobre a terra e totalmente se entrelaçam ao depois das derribadas. (p. 43)
O sazonamento deste fruto se conhece pela cor vermelha. De ordinário, isto acontece nos fins de setembro, no tempo das vindimas; e no qual também nós o vendimamos, e continuamos sem parar até o fim do ano: mas se o cafezeiro está em a sua 1 e 2 novidade: pelo mês; já desde julho se pode começar. Neste tempo se dá um intervalo de algumas semanas, no qual se aplicam em alimpar o lugar; porque quando se está na maior força da colheita, não se pode deixar esta um só instante, sem experimentar uma grande perda. Os pretos, aplicados a este trabalho, se provém cada um de seu cabaz, quase como os nossos de vimes usados nas vindimas, em o qual fazem cair o café no mesmo tempo que o vão apanhando. Apenas se enche o cesto, se vai despejar em outro maior, de que cada negro tem um, que há de fazer a sua carga. Nestes levam eles o café ao moinho, ou engenho. Recomende-se aos escravos de tirarem o fruto somente; e de deixarem o seu pezinho pegado ao ramo, pelo não descascar, o que faria mal a árvore. (p. 72)
§ XXVIII. Disposição na casa do Engenho
Estando os certos cheios, cada negro carrega o seu e o despeja em espécies de separações em forma de cofres praticados em os lados da casa, e qualquer destes pode conter maior quantidade de café doo que os pretos podem apanhar diariamente. A noite fechada, ao depois da reza, se dispõem o número de pretos necessários para o passarem pelo engenho. Bastam 7, e todas as noites, ou serões, devem ser revezados ou substituídos por outros tantos, e no entretanto aqueles vão as suas senzalas dispor a comida, para os que ficam no trabalho de maneira que, estando este acabado, a achem feita totalmente. As mulheres são ordinariamente as incumbidas desta segunda parte. (p. 74)
Há um quarto escravo, posto no alto da tremonha, para dar de comer ao engenho, e lhe vai botando o café a medida, que ele o vai engolindo. (p. 75)
Quando se tem achado um ponto fixo, se continua o trabalho, até que a caixa do engenho esteja cheia, então se para, e se vaza nas bacias, coches ou barricas, de que se usa. Assim se prossegue até o fim. Feito isto se repassam os mesmos frutos segunda vez, para acabar de os purgar do resto do café que ficou pegado, então se abre uma pequena porta, praticada defronte do engenho, por onde as cerejas passam, quando caem, e que os negros arremessam quatro passos de distância pelos não incomodar. (p. 77)
§ XXXI. Meios para acautelar os escravos de muitas moléstias.
Como todos somos interessados na conservação dos nossos escravos, e de que eles gozem de uma saúde vigorosa, tanto quanto está em nosso poder, é preciso ser cuidadoso de os defender das injúrias do ar. As estações das colheitas são muito chuvosas, e mui cheias de orvalhos: e por isso não há cafezeiro algum que não esteja ensopado até as 8 e as 9 horas do dia. Ora, sendo notório que os escravos principiam este trabalho as 5 horas da manhã, serão todos os dias molhados, como os patos, o que não pode deixar de gerar diversas moléstias perigosas, ou arriscadas, cujas consequências podem vir a ser muito sérias. Para remediar estas sortes de inconvenientes, temos cuidado de os prover a todos (assim negros como negras) de boas casacas de pano grosso feitas a Bavara, isto é, dobrando-as nos peitos, e sobre as quais pode a água correr, mas não penetrar. O que lhes serve de preservativo contra os catarros, defluxos e frialdades, a que eles são muito sujeitos sem esta precaução. Os engenhos dão um trabalho, que lhes faz correr o suor em bicas; e se, estando quentes, saírem fora, não escrupulizaram beber um copo de água, logo que a encontrem. Nada mais precisam para um defluxo de peito. Para acautelar este acidente, dai-lhe um bom copo de água-ardente da terra, de que eles são muito amigos: com isto eles se vão contentes, e pelo maior interesse não beberiam água depois; pelo receio de não diminuir o ardor do liquor, que os satisfaz; e que neste caso lhe é um remédio soberano. (pp. 78-79)
No tempo da colheita se necessita de toda a gente. Então não há um que seja demais. Um escravo de menos no espaço de 15 dias somente faz um objeto de 12 barris de café em frutos, (que podem dar 200 arraéis de café limpo) de menos pela ausência de um só escravo. Que será quando faltarem muitos? O café não espera pela nossa comodidade para amadurecer: segue sempre seu trilho. As chuvas o derribam, as correntezas as arrastam e levam após de si: e tudo isto é perda. Precisa-se consequentemente aproveitar estes momentos preciosos. E por isso desprezar os escravos em tais apertos; desviá-los tão desacertadamente, não pode fazer conta alguma ao granjeiro: seria fazer muito mal o serviço. Ora, longe de os desviar, deve diminuir a metade dos domésticos. Logo que o café estiver recolhido no armazém estará seguro: enquanto porém estiver na árvore, estará sempre arriscado. Assim todo o grandeiro sábio e avisado, que conhece os seus interesses, evita quanto pode tudo o que se opõem ao adiantamento da sua colheita. (pp. 79-80)
Apenas o sol entrar a aquecer, principiar o seu trabalho, cada um tem a sua mão ou soquete, e lhe dá uma pancada medida e revezada com o outro, e por este modo se descasca o café da sua aralha ou pergaminho, que se despega sem grande trabalho; pois que 15 escravos em um dia podem muito bem pilar ou esbulhar dois milheiros. Esta facilidade tida em pilar mostra evidentemente que a despesa de um engenho é supérflua. Todavia, os que o possuem, podem, entretanto, ocupar os seus escravos em outro serviço, vantagem sobre que não conto muito a meu ver. (p. 86)
§ XXXVI. Rendimento do Café.
Calculamos as produções dos nossos rendimentos pelos cafeseiros que julgamos que podem dar um arratel cada um de café. Dão-se alguns que produzem muito maior quantidade; e outros menor, mas para se poder fazer um justo equivalente, não se poderia sem se afastar da verdade, dar-lhe uma maior estimação ou valor: bem entendido que não é preciso meter em linha de conta os que excedem a sua quarta colheita; e quando com cem escravos se faz cem milheiros de café, se mantém bem o lugar, o grangeiro não tem razão de se queixar. Mas antes de ter adquirido este número de escravos e os animais necessários para o serviço de sua fazenda e granja, pode contar o conseguir ao retorno da idade. Se ele não tem tido ganhos racionáveis para começar, então também não os começará a gozar. Quantos negros, novamente chegados ao país, morrem sem terem dado algum serviço a seus senhores; e que algumas vezes, saindo do navio onde se compram, caem de repente mortos, pondo os pés em terra? Que grosseiras perdas senão fazem quando acontece que algumas moléstias epidêmicas atadas, acontece que algumas moléstias epidêmicas atacam uma fazenda! As bexigas, os catarros, os defluxos de peito, as boubas e outros males venéreos, que são tão ordinário na vida libertina, que eles passam. Não há dia, nem ano, que em uma fazenda não haja na enfermaria 8 a 10 negros doentes. E quando os catarros são frequentes, não se poderia fixar um número certo. (pp. 89-90)
Há às vezes nesta ilha secas que ocasionam incêncios muitas vezes pela malícia dos escravos. (p. 127)
Se o terreno for limpo, como eu disse, se gozará da vantagem de poder plantar o cafezal a cordel. Este modo de por as mudas faz primeiramente mui agradável e vistosa a perspectiva da fazenda: e além disto dá outra utilidade, por meio as avenidas, ou aleias que formam esta disposição de poder o senhor ver com facilidade o trabalho de todos os seus escravos: utilidade que se não encontra em um terreno cheio de árvores em pé, ou deitadas. (p. 128)
Uns o plantam com a caracoâ, outros a enxada. Aprovo este último modo. O péfica muito mais bem enterrado; as raizes mais bem cobertas, e se deve esperar que o cafesal haja de ter todo o seu bom sucesso. O caracoâ, pelo contrário, tem seus inconvenientes. O escravo, ou não faz
Por baixo destes cadafalsos se estendem grandes panos sobre os quais os negros, que estão no alto, despejam lentamente os seus sacos, pondo a boca destes para a parte do vento. A isto chamam aventar. O vento leva a aralha, a moinha, e os grãos de café caem isolados nos panos. (p. 141)
Para se lhe tirar a polpa os negros convalescentes, ou enfermos, passam um cilindro de pai por cima da cereja quando está vermelha. (p. 178)
Uns o plantam com a caracoâ, outros a enxada. Aprovo este último modo. O péfica muito mais bem enterrado; as raízes mais bem cobertas, e se deve esperar que o cafezal haja de ter todo o seu bom sucesso. O caracoâ, pelo contrário, tem seus inconvenientes. O escravo, ou não faz o buraco tão profundo como deveria ser, ou o faz mais do que devia. (pp. 129-130)
Finalmente, no fim de três semanas, os que só estiverem amarelos estarão perfeitamente de vez. Esta terceira colheita de ordinário costuma ser mais abundante: e tendo o cafezal quatro ou cinco anos é comum ver um escravo encher dois grandes sacos por tarefa de um dia. (p. 133)
A maneira de secar o café não requer menores cuidados que os do colher. A proporção que os escravos chegam carregados, o devem conduzir a plataforma construída para secar e enxugar. Fazei que despejem os seus sacos em um só monte, sem o estender. (p. 134)
O cafezal, que se entretém desta sorte, fica sendo muito belo e vistoso; e se facilita a sua colheita; porque os seus ramos mais altos ficam ao porte dos escravos. (p. 137)
Cada pilão será entregue a dois escravos, postos um em frente ao outro, que farão cair arrevesadamente as mãos com que pilão. Não se deverá começar a pilar senão estando o café que estiver na plataforma, aquecido pelo sol. Então um destes escravos enche um saco, traz ao rancho e provê o pilão, advertindo de não encher mais da metade do seu vão. (p. 140)
Cada pilão será entregue a dois escravos, postos um em frente ao outro, que farão cair arrevesadamente as mão com que pilão. Não se deverá começar a pilar senão estando o café que estiver na plataforma, aquecido pelo sol. Então um destes escravos enche um saco, traz ao rancho e provê o pilão, advertindo de não encher mais da metade do seu vão. (p. 140)
Tendo-se pilado todo absolutamente, arma-se um cadafalso (girau no Brasil) de sete para oito pés de altura, exposto ao vento, sobre o qual sobem dois ou três escravos, aos quais outros entregam os sacos cheios de café pilado. Por baixo destes cadafalsos se estendem grandes panos sobre os quais os negros, que estão no alto, despejam lentamente os seus sacos, pondo a boca destes para a parte do vento. A isto chamam aventar. O vento leva a aralha, a moinha, e os grãos de café caem isolados nos panos. (pp. 140-141)
Então os escravos, armados de varas, bateram todo o terreno igualmente. (p. 142)
Quero supor que ele começa o seu trabalho com vinte escravos: que ele nos dois primeiros anos derruba dez quadrados e planta a metade destes de café, terá plantado um cafezal de 40 mil pés, o resto, que sobra, será empregado nas roças dos escravos, na plantação de outros víveres, se quiser observar esta economia escrúpulo a mente, terá, com toda a segurança, terra para cinquenta anos. Seus netos ainda gozarão dos efeitos da sua bondade. (p. 154)
Ainda se dá outra consideração que tem o mesmo peso, vem a ser que a cultura do café pode ser levada a um tal ponto que possa fazer subsistir os fazendeiros pobres, e alguns artigos semelhantes, particularmente o algodão, com pequeno fundo de cabedais, e sem despesa de muitos escravos. O fazendeiro rico pode demais fazer açúcar. A despesa de negros, gado, engenhos e outros requisitos das fazendas de Açúcar é compreendida. Se tiver alguma propriedade de terras, por um ou outro meio se vê muitas vezes obrigado a vende-las a algum vizinho mais rico, e mudar-se para outro bairro, menos desfavorável as suas atuais circunstâncias. Deste jeito se despovoam pouco a pouco as ilhas de vizinhos brancos. Isto os indispõem para poderem subjugar dentro a insurreição dos seus negros, e também para se oporem a qualquer invasão hostil que possam ter de fora. (pp. 231-232)
Consequentemente os vizinhos desta ilha acham maior conveniência em estabelecer as suas granjas desta planta em um terreno mais rico; e as pessoas que tem o pequeno e delicado café são aquelas que possuem terras más, e não tem um suficiente número de braços ou escravos para o menear, e beneficiar. (p. 242)
Também o francês importa pasmosas quantidades das ilhas de Bourbon e Maurícia, onde compram baratos os escravos de Madagascar. (p. 260)
As suas perdas em escravos e bestas foram imensas, em razão do embaraço da cultura das ilhas, cobertas totalmente de matos e consequentemente húmidas e pouco sadias pela falta de sustento e de abrigo para os sobreditos escravos e gado. (p. 262)
Todos procuram repartir as suas propriedades e, por consequência, fornecerão meios de subsistir a um maior número de habitantes brancos, aumentando com isto as forças das ilhas e dispondo-as, para que melhor possam defendê-las, assim das violências dos de fora, como dos levantamentos domésticos dos escravos. (p. 263)
6.
O clima das montanhas, ainda que muito chuvoso, é sadio; mas provindo a mor parte das moléstias, a que os negros são sujeitos do frio e humidade; por conseguinte os negros d'África sofrem particularmente na mudança de clima enquanto se não afazem. (p. 12)
Resulta, pois, do que tenho dito, que o homem que tem em vista estabelecer uma plantação de café depois de maduramente pesar as observações gerais acima apontadas, obrará com mais prudência se antes de concluir o contrato de compra, visitar ele mesmo as terras, levando consigo dois ou três negros com provisões e instrumentos para poder explorar do melhor modo possível as qualidades do terreno e as circunstâncias da fazenda que tem tenção de comprar. (p. 15)
Primeiramente, se uma estrada lhe passar pela fazenda, deve fixar sua morada a alguma distância para não ser perturbado pelos passageiros ou em sua pessoa, ou na ordem interior e administração de seus negros. De uma semelhante posição nascem poucas vantagens e muitos inconvenientes. (p. 16)
Sejam quais forem as circunstâncias do plantador em matéria de fortuna, eu não aconselharia a pegar um estabelecimento com grande número de negros, particularmente se tem necessidade de acarretar de muito longe as provisões e mais coisas necessárias, e não pode tirar de alguma plantação vizinha abundante suprimento de víveres. Se não tem este suprimento, seis e quando muito doze negros com uma ou duas negras são bastantes para fazer o primeiro ensaio. É também necessário que dê providências para os sustentar com certeza e abundância, para o que deverá bastecer se de mantimentos em alguma das fazendas vizinhas. Nos começos do estabelecimento deve se a cada negro fornecer de uma enxada, um rapador, um machado e de um podão (Estampa I fig. 1, 3, 5, 6) dois pares de vestiduras, uma jaqueta, um chapéu e provisões proporcionadas (p. 19)
De mais, deve o senhor do estabelecimento ter um machado de reserva para cada negro, e igualmente os mais necessários instrumentos de carpintaria; como uma serra, uma verruma, um livel, um martelo, uma machadinha, dois furadores, uma machada de tanoeiro, uma goiva, uma pedra de fiar com seu cabo, e provisão de pregos de diferente lote. Quanto a seus víveres e conveniências próprias, deve supor-se que não os esquecerá; só lhe recomendarei que se não sobrecarregue. (pp. 19-20)
Este é também o período em que lhe é necessária uma compassiva e industriosa atenção para encorajar seus negros. Se sente em si mesmo o prazer que nasce de plantar e criar, não se queixará das fadigas pessoais, trabalho e (não lhe oculto) da abnegação própria; e posso acrescentar que, uma vez que se entranhe por sua ocupação, encontrará, talvez, em seus solitários empregos uma satisfação em si mesmo, e inocentes prazeres e consolações. (p. 20)
Deve-se ordenar aos negros que as cortem o mais baixo, que sem dano se poderem, mas que não arranquem as raízes, pois que preservam a terra durante o primeiro período de cultura. (p. 23)
Devem separar-se os negros em duas ou três bandas, e porem-se em distâncias em que caindo as árvores da outra banda não as possam apanhar. Convém cortar a árvore pelo lado mais baixo para determiná-la a cair para o declívio. É preciso vigiar atentamente o cair das árvores para se segurarem os negros a tempo. Algumas vezes os ramos menores e maiores das árvores estão tão enredados por plantas reptantes, ou cipós, que ainda depois de inteiramente cortados doze ou mais não caem. É, então mais necessária atenção, pois que o perigo aumenta e antes do geral estrondo da queda, devem-se os negros retirar a certa distância. (p. 24)
Sei muito bem que isto se praticou com sucesso nas plantações em que havia grande número de braços, e onde os cafezeiros se plantavam a grande distância: mas não me aventuraria a fazer experiência deste projeto no primeiro estabelecimento em que se empregam poucos negros, e se deve utilizar de todo o terreno para haver de ter um amplo e pronto suprimento de provisões e vegetais de todas as sortes. (p. 27)
O outro, que é menos variável, por ser para uso dos negros, consta de uma régua. (pp. 28-29)
Um negro levanta o livel, e fixando-o na abertura do caminho, outro com um malho, e umas poucas de estacas rachadas obtusamente, do comprimento de quinze polegadas, põem uma delas exatamente debaixo de ambos os pés do livel; o qual avança, fincando o pé de trás posto sobre a estava de diante, no entanto que o prumo assinala o lugar próprio em que deve ficar o pé de diante: quando se firma este, o segundo negro finca outra estava exatamente debaixo dele, sempre com o lado obtuso voltado por cima, e assim por diante. (p. 30)
Primeiramente os caminhos abriram-se, e concertavam-se por uma contribuição proporcional de trabalho dos escravos juntos, a que os franceses chamam corveias, para o que também assistia o governo, e posto que ainda em 1788 se não podiam dispensar estas contribuições, para abertura de novas estradas, contudo os últimos regulamentos assinaram a cada plantador para a cuidar certa porção das estradas públicas, proporcionadas ao número de seus negros, e a qualidade da estrada que lhe couber. (p. 32)
XXIV. Árvores frutíferas
Também se devem por na borda dos caminhos as árvores frutíferas, tanto naturais, como estrangeiras; as que vem mais cedo, melhor. É bem verdade que o senhor com dificuldade se aproveitará dos frutos, porque os negros os furtaram ainda antes de amadurecerem. Porém só a vista paga o trabalho, quanto mais que o que serve para os escravos não é inteiramente perdido para o amo, pois se em outro tempo quiser formar um pomar fechado, terá árvores já crescidas e capazes de transplantar-se. (p. 34)
O plantador deve arredar de suas plantações de café quase todas as demais plantas, especialmente o tabaco de cuja cultura os negros gostam muito; porém que multiplica em demasia, e cansa de todo a terra do mesmo modo todas as plantas que produzem provisões ou mantimentos, que quando se arrancam fazem o terreno muito solto, e esgotam lhe os sucos; e ultimamente todas as plantas reptantes, como melões e inhames de toda a casta, batatas, abóboras e melancias com a imensidade de ervilhas de que o país abunda. (p. 38)
Só nas terras de mui pequeno declínio pode-se conseguir um arranjo regular e simétrico no dispor os lugares para edifícios, as campinas ou pastos, terras para mantimentos para o amo e escravos, prados e terras de café: esta singular felicidade é rara. (p. 50)
Todo este trabalho de preparação é feito pelos escravos de casa, pelos rapazes que ainda vão ao campo, mulheres pejadas ou que estão a criar. Ultimamente as criadas e criados que servem o hospital, ajudam a varrer o café para os bassicots, e daí para as plataformas. (p. 86)
XXX. Officiaes.
Se o plantador não tiver oficiais próprios, como é provável por ser raro que os escravos tenham bastante habilidade para obras dificultosas; ou se não poder, por sua própria indústria, trabalhar sem eles; pode facilmente achá-los com os pedreiros a tanto por braça de obra, com os carpinteiros que também são geralmente telhadores, a um preço certo por mês, ou por ano, ou por obra; ultimamente com os que fazem ripas a tanto por milhar. (p. 97)
7.
Eu acrescentarei aos meios que da este autor, a plantação da taquara ou bambu. Esta cana cresce muito depressa, e sobe a grande altura, fornece muito; e pelo seu socorro os holandeses no Cabo da Boa Esperança guarnecem as suas plantações. As suas folhas são utilíssimas para pasto dos animais, e os negros são amiguíssimos da medula esponjosa desta árvore. (p. 9)
Avaliando-se o produto de cada árvore em dois arráteis de amêndoas secas, e seu valor pela renda de sete soldos, se lucrará quinze soldos de cada árvore. Vinte negros podem muito bem cuidar em cinquenta mil cacauzeiros. (p. 20)
Ainda aqui não está tudo: a utilidade das bananeiras, para o sustento dos escravos, basta para indenizar de todas as despesas que esta granjearia houver de fazer ou custar, de maneira que o rendimento do cacaosal ficará todo em favor ou benefício de seus donos; porque as bananeiras, sendo cortadas no fim de um ano, repulularam com renovos, que tornaram a dar frutos no fim de oito meses ao depois, e que continuamente os darão para o sustento dos escravos, até que os cacauzeiros cheguem ao estado de poderem produzir, o que quer dizer, passados três anos ao depois de terem sido plantados. (pp. 42-43)
Gastam-se quatro meses ordinariamente da flor ao fruto. Conhece-se facilmente quando chega a este ponto, pela cor da sua casca que amarelece no lado exposto ao sol. Para se colherem estes frutos, se põem em cada fileira, ou enfiada de árvores, um negro com o seu jacá ou cesto, o qual tira todos os que estão maduros, e deixa os que ainda não estão. (p. 45)
Penderam talvez que o método que acabo de prescrever, requer um trabalho considerável, tedioso e que exige uma grande multidão de escravos; mas quem não vê que isto é um grande erro, pois estou certo que cinco ou seis escravos bem instruídos conservarão um cacauzal de dez mil plantas muito bem. E que tem que ver este pequeno número de escravos que cuidam na cultura de uma granjeada de cacau com o número de homens que requer a cultura de cana e do açúcar na mesma extensão de terreno. (pp. 49-50)
Em um cacauzal bem alinhado a cordel, os escravos não podem evadir os olhos do seu senhor, ou do seu feitor. (p. 59)
Um escravo faz trinta destes cestos por dia. Mandam-se se levar os grãos em lugar onde as formigas lhe não hajam de dar; pois tendo a muda adquirido certa força, está menos exposta a ser danificada pelas formigas ou outros insetos. (p. 60)
Quando os escravos colhem as cabaças de cacau, se faz indispensável embaraçar-lhes a que não hajam de abalar e sacudir as árvores; porque estando elas carregadas de flores, como acontece muitas vezes no tempo da colheita, se as chegam a sacudir com os seus podões encabados, lhes lançam por terra as flores, e assim as vem empobrecer de frutos na futura colheita, na qual ficam privadas dos frutos que dariam estas flores. (p. 62)
O cacau é, ao depois do algodão, o gênero de maior facilidade para se cultivar e fabricar, sobretudo, para aqueles que se sentem com falta de meios ou de escravos para empreenderem outras coisas. (p. 64)
Convém que as áleas, avenidas ou ruas que houverem de formar as fileiras das plantas sejam as mais diretas que for possível, não só em razão da formosura e beleza que lhes deve resultar deste alinhamento, mais ainda pela maior facilidade que certamente este dá ao trabalho dos escravos para colherem mais comodamente as suas amêndoas. (p. 68)
Para se fazer esta colheita, se dispõem os negros que se determinam para este trabalho, um a um, em cada fileira de árvore. Cada negro tem seu cesto, e conforme a fileira, em que se pôs, colhe todos os frutos que estão maduros, sem tocar nos que ainda não estão, ou tem necessidade de algum tempo mais para o ficar. (p. 72)
Nisto não se deve empregar algum instrumento de ferro, nem se sacodir a árvore: quebra-se tão somente o pezinho da fruta, que se prende a árvore, torcendo-o um pouco com uma pequena forquilha ou forcado de madeira, e arrancando-o. A proporção que os negros tem cheio os seus cestos, os trazem a uma das extremidades do cacauzal, onde amontoam tudo quanto colhem. (p. 72)
O rendimento de um cacauzal ou de um vergel de cacaus é muito grande; e a sua despesa muito limitada. Vinte escravos bastam para conservarem cinquenta mil árvores de cacauzeiros, que podem render ao ano comum ou uns por outros, cem mil arráteis de amêndoas, as quais, as sete soldos e seis dinheiros ao arrátel, que é o menor preço, porque se vende produzem 37 500 libras de França (6,000 000) quinze mil cruzados. (p. 75)
Finalmente a mandioca é um arbuto, cujas raizes raspadas e cozidas ao fogo fazem a farinha que serve de pão ao país a todos os moradores naturais da América. Planta-se em os roçados novos, não só pela necessidade que se tem de sustentar os escravos; mas também para diminuir o mau mato e ervas, e, finalmente, para dar sombra as nossas plantas de cacau, que vem arrebentando, cujo grelo é tão tenro, que não pode resistir ao calor excessivo do sol. (p. 88)
Devem ocupar nisto os escravos mais destros, aos quais acompanham outros cem cestos e as vão amontoando na terra a direita e a esquerda no Cacoal, onde ficam por quatro dias sem as mexer ou tocar. (p. 96)
Não se emprega a este fim instrumento algum, menos se deve sacodir ou abalar a árvore; quebra-se, porém, o pezinho, pelo qual o fruto se prende a árvore, torcendo-o um pouco com uma pequena forquilha de madeira, ou arrancando-o; e tendo os negros os cestos cheios, os trazem a extremidade do Cacoal, e fazem um monte de todos os que apanharam. (pp. 170-171)
Não se espera trazer para casa as frutas para se abrirem: além de ser este transporte custoso aos escravos obrigaria também a outro trabalho que seria o transporte das cascas já evacuadas que até agora se tem reputado tão inúteis, como as castanhas da Índia. (p. 171)
Fazem-se as ruas, avenidas ou áleas, o mais direito que for possível, não só em razão da formosura, mas também do proveito; porque, sendo assim, se pode ver com mais facilidade o trabalho dos escravos que não poderão subtrair-se a vista do senhor ou do feitor, estando o Cacoal bem alinhado, como o poderiam fazer se as arvores fossem plantadas a barisco ou confusamente e ao acaso. (p. 162)
Muitas experiências me têm demonstrado que vinte negros podem manter e cultivar cinquenta mil pés de cacaus, plantar ainda mandioca, milho, legumes, batatas (solanos e convolvulos), e outros víveres em muito maior abundância que a precisa para seu sustento. (p. 177)
[...]porque não despende com o sustento dos escravos que cultivam as árvores, que é, todavia, a única despesa a que se vê obrigado. (p. 178)
Neste tempo os pretos ou escravos custam menos uma terça parte que hoje custam. (p. 217)
O mencionado autor propõe seis escravos e quatro brancos, com seu feitor e a terra ainda em mato virgem. (p. 217)
Tendo provisões de mantimentos prontos, cumpre comprar mais dez escravos, e no mês de março plantem-se os cacaus entre as fileiras ou ruas de bananeiras, que a este tempo já terão cinco ou seis pés de altura, de modo que no primeiro de junho tenha já plantado vinte e um acres inteiramente de cacau. (p. 218)
A raiz da mandioca raspada e cozida ao fogo dá a farinha, que é o pão do país de que se alimentam os negros. (p. 228)
As amêndoas assim cobertas e embrulhadas, aquecendoo-se, fermentam o que chamam ressuar. Descobrem-se todos os dias de manhã e a noite, movem debaixo para cima pelos escravos, e se tornam a cobrir e se continua isto mesmo por dias. (p. 229)
Esta árvore reúne a uma vista formosa muitas utilidades, pois deverá dar aos colonos, e aos seus escravos um alimento sadio e nutritivo. (p. 349)
8.
A única desvantagem que tem, é o de se não poder despegar da semente tão facilmente como o outro, e por consequência um negro no trabalho de um dia descaroça ou limpa muito pouco. (p. 4)
Cada negro pode diariamente descaroçar sessenta e cinco arráteis sem muita fadiga; pois lhe caem as sementes, sem se quebrarem, antes de passar pelos cilindros, ou rolos do descaroçador, saindo ele dele perfeitamente limpo. Por este motivo é suma imprudência misturar-se umas espécies com outras. (p. 5)
Pelo valor de doze escravos a 70 lib. cada um 840/1,265 (p. 11)
(a) [Nota de rodapé] O sustento dos escravos, passados cinco anos, não entra em linha de conta, porque se julga que o algodoal não sendo suficiente por estar totalmente cheio, pode cultivar o milho e outros artigos no sobejo dos vinte e cinco acres, que são mais que suficientes para pagar o seu vestuario e sustento. Igualmente se usa cultivar milho, batatas, etc, entre as fileiras do algodoal. (p. 12)
Não bastava estar metido de posse deste botânico horto, também se necessitavam braços para se haver de cultivar este terreno ingrato que se lhe havia destinado. Ao depois de repetidos requerimentos, se lhe concederam três escravos de uma idade avançada com muito pouca capacidade para atuarem um trabalho que devia ser assíduo e insano. (p. 25)
Desde 1791 o cidadão Martin tem plantado 14 mil girofeiros novos, os quais, dentro de pouco tempo, se acharão em plena produção e então os girofais de Caiena renderão um ano por outro mais de 10 mil myriogramas de peso, os quais vendidos a razão de 6 francos o arratel, que é o preço mais baixo, porque se tem vendido este gênero no seu país nativo, lhe darão uma renda anual de 1:296000 francos. O cidadão Martin intentava fazer chegar os parques de especiarias e da ilha a cem mil pés em Girofeiros, de multiplicar as pipeiras. Caneleiras, Moscadeiras e da mesma sorte os Padais, cujos frutos de pão os negros comem com muito gosto ainda que na realidade sejam inferiores aos da Ilha dos Amigos. A liberdade concedida aos escravos embaraçou este projeto. (pp. 28-29)
Segue introduzi-la em grandes sacas, onde se calcam por pés dos escravos, ficando então mais unida e compacta; e para corresponder melhor este fim lhe deitam alguma água, sacodindo a saca de um para outro lado. (p. 43)
[...]o cultivador deste gênero possui dez bons escravos, e que igualmente tem um algodoal que ocupa vinte acres de terreno. (p. 44)
Um escravo trabalhador diariamente disporá cinquenta ou sessenta arráteis por dia: logo três escravos disporão, por uma regra média, a quantidade acima dita, em cinquenta e quatro dias, consequentemente este fazendeiro terá tempo desocupado para cuidar nos grãos e abastecimento de outras provisões necessárias. (p. 44)
Estou informado que na Carolina todos os fazendeiros tem um grande número de teares em atual trabalho, em que fazem tecidos grosseiros de algodão, com que vestem os seus escravos, e ainda os seus co-trabalhadores brancos [...] (p. 46)
Atrevo-me a dizer, ao que parece, que a produção das árvores que hão de dar fruto no ano seguinte, podem no decurso de cinco anos (principiando de 1796) abastecer as colônias inglesas de vinte mil árvores, principalmente porque o total das árvores que de novo tenho plantado, devem produzir em menos de três anos e meios, desde a data do presente (1795); mas possuindo eu muito poucos escravos, não deverei afiançar viveiros tão grandes, sem abandonar os interesses da minha família (p. 75)
As relações que temos deste país pouco dizem da cultura do algodoeiro nesta vasta parte do mundo. Todavia parece certo que nele se cultiva este arbusto não só nas costas, como também no seu sertão; porque as caravanas que todos os anos vem do interior da África ao Egito para o comércio de escravos, e da goma trazem panos de algodão, cuja cor e forma atestam a origem africana. (p. 94)
No Senegal, e Serra Leoa, e nas feitorias europeias de Guiné se veem muitas vezes amostras de algodão trazidas do interior pelos contratos negros. Este algodão, ainda que de uma brancura brilhante, e de uma grande macieza, contudo é menos estimado pelos negros que o algodão semelhante ao Sião amarelo, mas de uma cor mais dourada que se acha nos reinos de Dahomet, e cuja exportação é proibida debaixo de rigorosas penas. É desconhecido o algodoeiro. (p. 94)
Algumas vezes a negligência dos negros causam a deterioração deste gênero: colhem os pulhos as punhadas, e misturam o algodão com folhas secas, que o mancham. Estas folhas embaraçam o descaroçador, e alteram a qualidade do algodão. Para se colher bem, o negro só se deve servir dos seus três dedos, e evitar de quebrar os ramos quando os puxa para si, o que faria abortar os capulhos ou maçãs que ainda estão verdes que podem ter. (p. 97)
Um negro entra no saco, suspenso no ar por travessas fixadas em esteios; calca com os pés o algodão que se lhe vai dando, pouco a pouco: quanto for mais calcado ou apertado, menos sujeito fica a sofrer a avaria no transporte. (p. 98)
Um só negro pode cultivar um quadrado de terra (quase três arpentes de Paris) plantado em algodão, sendo esta superfície em terras boas, pode dar mil e duzentos arráteis deste gênero, que, vendidos a razão de duzentas libras tornezas por quintal, oferece uma renda de suas mil e quatrocentas libras (384$000 por escravo).
Levam para casa as nozes já preparadas; e com a faca lhe separam os macis, o qual, sendo possível, se deve deixar inteiro. Destinam-se escravos para este trabalho, os quais o exercício adesta tanto, que o fazem com muita presteza. (p. 162)
Presentemente estas matas de moscadeiras já não são possuídas pelos indígenas, seus antigos habitadores, porque pelos repetidos homicídios cometidos contra a nação holandesa, e, principalmente, pela crueldade executada contra o chefe Willemsen, foram expulsos e se lhe conquistou a terra pelo capitão general Cod, ficando sujeita a Holanda e, neste tempo, se entregaram os vergéis aos holandeses e mestiços, que são obrigados a manter ali um grande número de escravos, a saber, 40. (p. 169)
Enquanto aos que os ventos e os temporais derrubam, que são muitos de que nascem os Rompos, cujos macis também é bom que antigamente se permitia a qualquer que os visse, apanhá-los, hoje já não é assim, antes, pelos contrário, porque os donos dos Vergeis se queixaram que os coletores dos Rompos (chamam-se rompeiros), transcendendo os seus limites, tinham dado em ladrões, donde veio que cada um ficou obrigado a guardar os seus Vergeis pelos próprios escravos. (p. 170)
Sem embargo de serem as ilhas de banda pouco sadias de sua natureza, muita falta de águas, e ainda sujeita a outros muitos defeitos e perigos na colheita das moscadas, principalmente nos Vergeis e florestas que ficam pelos altos, e arriscados despenhadeiros da Ilha de Lontar, não só sendo obrigados a sofrer todos estes penosos trabalhos, mas também a aguentar a seus olhos a perda dos seus escravos [...] (p. 170)
A razão desta decadência é bem conhecida. Em quanto haviam matas virgens a borda do mar, ou de muitos rios navegáveis que entram algumas léguas terra dentro, a lavoura se fazia com facilidade, e com a mesma se conduziam as farinhas as costas dos escravos, e de poucos animais para os portos de embarque. (p. 191)
Cálculo Analytico
Um escravo trabalhando em algodão da de rendimento no sertão 250000 (p. 203)
Tendo os escravos colhido as nozes, as abrem com uma navalha ou faca, tiram-lhe a casca exterior que se deixa apodrecer amontoadamente pelos matos. O colhedor novato, que ainda não sabe distinguir as nozes bem maduras das que ainda o não estiverem, se as quiser abrir, está no risco de se maltratar a si, cravando na sua própria mão a navalha que quiser introduzir na nós não madura, ou que ele a julga madura, não estando. (p. 230)
[...] no ano de 1609, sendo governador o almirante Verhoeven, foram perseguidos, e no de 1621 toda esta terra ficou sujeita a força de armas pelo capitão general Jano Petersen Coeno, e reduzida a uma das províncias holandesas, repartindo-se por holandeses seus mestiços ou bastardos toda a sua superfície, cada um dos quais deve sustentar um grande número de escravos, isto é, de 40 a 50 cada um; e os que possuem grandes superfícies ou Vergeis de 80 até 100. (p. 234)
[...] o feitor com pouco trabalho põe debaixo da vista os escravos que colhem, e que mondam: a mesma monda fica mais fácil, sem falar ainda em outras utilidades menores que disto resultam. (p. 235)
Hoje, porém, está vedado o apanhá-las; porque os que possuíam parques se queixaram que estes apanhadores, ou melhor, ladrões, tinham excedido o termo, ou modo, e que as apanhavam das mesmas árvores, de maneira que qualquer deles com os seus escravos tem o seu Vergel particular. (p. 235)
[...]quem mete nos buracos a semente, comumente são negras, por isso é que mando sempre, aos que andam com as enxadas, mudar as estacas; porque estes são negros, por isso mais ligeiros que aquelas, qualidade que se requer para este serviço não padecer demasiada demora. (p. 237)
Muitos, ou para melhor dizer, a maior parte, estão persuadidos das reais utilidades desta operação; mas a não executam como devem, pois, para economizarem dois ou três dias de trabalho, ordenam aos escravos, quando mondam, que os capem; estes, ou por descuido, ou porque finalmente os interesses de seu senhor, pouco ou nenhum cuidado lhes dão, deixam a maior parte por capar, e as vezes deixam todo [...] (pp. 241-242)
Não me estenderei muito sobre a utilidade das mondas, porque não há quem deixe de conhecer as suas vantagens; pois além de nutrirem mais os algodoeiros, e brotarem melhores frutos, obstam ao perigo de serem os escravos mordidos de animais tão mortíferos e venenosos como são as cascavéis e outras espécies de víboras que se escondem debaixo das ervas. (p. 262)
(1) [Nota de rodapé] Crotalus horridus Lin. Ha tão grande abundância destes animais neste lugar onde cultivo, e nos seus arrebaldes, que nas ocasiões da monda tem os escravos morto trinta e quarenta por dia; que as tenho mandado as moitas, as vão matando com as foices com que trabalham, não falo em outras muitas espécies, não menos venenosas, que se encontram com a mesma frequência. (p. 262)
O instrumento, com que se costuma aqui mondar, é a foice, cada escravo armado deste instrumento, partindo todos de um ponto em distâncias proporcionadas, roçarão sempre em ordem: esta operação deve-se fazer, ao menos, duas vezes, uma logo ao princípio do inverno, ou do tempo das chuvas, para que os algodoeiros, não tendo quem lhes roube o nutrimento, principiem a vegetar com força e vigor [...] (p. 263)
Para efetuar esta colheita, não é necessário, senão um cesto da capacidade de uma arroba. Quando se vê o algodoal branquejar de modo que se suponha haver suficiente número de capsulas abertas, não se deve dilatar o agricultor em colher, para isto basta que o escravo se sirva unicamente de três dedos. (p. 267)
Para a estabelecer, somo a quantidade que colheram todos os escravos juntos, ou a maior parte deles, e divido pelo seu número, o que me sai no quociente, ou aquilo que toca a cada um [...] (p. 268)
A experiência me tem feito ver que a emulação por si só mui poucas vezes tem poder de excitar ao trabalho os ânimos servis dos escravos, e quase sempre produz bom efeito a combinação do castigo com o prêmio, e emulação manejados com destreza. (p. 269)
Até aqui não tenho dito neste capítulo, senão, o que eu uso com os meus escravos; esta prática e regularidade não é observada por todos, porque comumente não possuem suficiente número de escravos, e por isso estão sujeitos a mil enganos, que é necessário destreza e vigilância para os descobrir: o primeiro erro é mandar os escravos colher algodão a ventura, isto é, por onde lhes parecer; estes assim que se ocultam nos arbustos, ou dormem e nutrem a sua natural preguiça, ou se colhem, roubam de cada vez uma porção, e escondem nos matos até acharem ocasião de o desencaminharem; e fazem o seu contrabando com tanta sagacidade, que rara vez se sabe [...] (p. 269)
[...] esta era a tarefa que dava aos meus escravos, antes de fazer o meu engenho de bestas; mas há pessoas tão hábeis, que descaroçam oito arrobas de algodão em caroço, que rende dois de lã. (p. 275)
O trabalho fatigante desta operação, e alguma curiosidade que exige da parte de quem ensaca, faz com que os negros se neguem a este trabalho, por cuja razão são contados os ensacadores, e logram um preço distinto [...] (p. 284)
Quanto ao cravo, se a ilha da pequena Tabago, tiver da natureza, ou se lhe puder fornecer pela indústria e arte um terreno capaz de o produzir; há mais terra ainda nesse pequeno lugar do que a que empregam nisso os holandezes, incluindo as habitações dos escravos que são destinados a sua cultura; cujos números, digamos de passagem, anda abaixo de três mil. e deve passar longo tempo com todo nosso cuidado, antes de precisarmos de tantos. (p. 286)
[...] eu nunca estorvo os dias de trabalho de meus escravos com esta operação: quando tenho suficiente quantidade de algodão escaroçado, chamo dois dos mais destros na manobra, e dentro de pouco mais de duas horas me ensacam quatro sacos [...] (p. 288)
Páginas
Obra 1: 22 (do PDF), 20, 21, 27, 53, 79, 86, 89, 90, 123, 137, 216, 249, 301, 366.
Obra 2: 5, 6, 81, 82, 88, 91, 129, 130, 143, 152, 215, 245, 248, 249, 261, 262, 263, 273, 275, 277, 279, 287, 291, 292, 349, 350, 356.
Obra 3: 75, 91, 99, 100, 104, 107, 108, 117, 118, 119, 120, 121, 122, 128, 129, 131, 133, 139, 140, 141, 142, 143, 145, 146, 147, 150, 176, 180, 181, 182, 234, 241, 252, 256.
Obra 4: 132, 191, 193, 194, 195.
Obra 5: 12 [do PDF], 26, 29, 30, 32, 33, 34, 37, 38, 39, 43, 72, 74, 75, 77, 78, 79, 80, 90, 141, 178, 231, 232.
Obra 6: 12, 15, 16, 19, 20, 23, 24, 27, 28, 29, 30, 32, 38.
Obra 7: 9, 20, 45, 72, 170, 171, 177, 228.
Obra 8: 4, 5, 11, 12, 25, 28, 29, 44, 46, 75, 94, 97, 98, 162, 169, 170, 191, 203, 230, 234, 235, 237, 241, 242, 262, 263, 267, 268, 268, 275, 284, 286, 288.