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COUTINHO, José Joaquim da Cunha de Azeredo. 1743-1821

Sobre o autor

O padre Azeredo Coutinho nasceu na vila de Campos (Rio de Janeiro), em 1743, e morreu em Lisboa, a 12 de setembro de 1821. Formado em cânones pela Universidade de Coimbra, Azeredo Coutinho foi bispo de Pernambuco, de Beja (Portugal) e de Elvas (Portugal) e inquisitor geral do reino, cargo que ocupou até 1820, quando foi extinto o Tribunal do Santo Ofício em Portugal.

Obra(s)

Ensaio Economico Sobre o Comercio de Portugal e suas Colonias Oferecido ao Serenissimo Principe do Brazil nosso senhor e Publicado de Ordem da Academia Real das Siencias pelo seu Socio Joze Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho. Lisboa: Na Oficina da mesma academia, 1794.

Menções ao negro e ao escravo

Se ali se estabelecessem boas fábricas de pescarias a imitação das do Algarve, Cines, Cezimbra, etc., seriam sem dúvida de uma riqueza imensa para os proprietários das redes, das salinas, das terras; e de um grande socorro ao menos para a sustentação da marinha de comércio daquelas costas, e dos escravos, principalmente das lavouras. (nota de rodapé número 12, p. 11)

§ XIV. Logo é necessário que um tal Estado ou não tenha comércio com as outras nações, e por consequência, que não passe da sua infância que se conserve na sua primeira barbaridade, sem artes, sem luxo, só contente com a simples produção do seu terreno; ou que a maior parte dos seus habitantes sejam escravos, que só vivam do absolutamente necessário para sustentar o luxo da pequena parte dos seus senhores. A história das viagens de todo o mundo nos faz ver constantemente que os Estados que vivem reconcentrados sem o comércio da navegação, ou são totalmente bárbaros, ou vivem na escravidão. (p. 19)

Seria bom que até se pusesse uma certa contribuição sobre cada escravo pescador ou marinheiro, e que se desse algum prêmio ou privilégio a cada dono de uma rede, ou de um navio cujos marinheiros fossem todos índios domésticos. (Nota de rodapé número 7, p. 39)

O clima que produziu os Alexandres e os conquistadores da Ásia, apenas produz hoje humildes escravos do maior déspota do mundo. (p. 57)

§ XXIII. Montesquieu para dar uma prova do quanto influi na felicidade do homem o nascer debaixo deste ou daquele clima para ter uma fibra mais ou menos forte; e por consequência para ser, conforme o seu sistema, livre ou escravo, diz que nos países frios reinou sempre a liberdade, por isso que neles a fibra é mais forte; e que nos países quentes reinou sempre a escravidão, porque neles a fibra é mais frouxa. Que as repúblicas e os governos populares, por isso que são de maior liberdade, são mais próprios para os países frios, e pelo contrário as monarquias para os países quentes. (p. 57)

A Czarina está premiando todos os dias os seus grandes generais com muitos centos de escravos; e os mesmos Moscovitas até muitas vezes de vendem. (pp. 57-58)

Nos Estados meridionais da Europa apenas se ouve falar no nome de escravo. Da mesma sorte a religião protestante, que ele diz ser mais própria para as repúblicas, e a católica romana para as monarquias. (p. 58)

§ X. Esta falta porém pode ser suprida em muita parte por aqueles braços que, ou pela barbaridade da África, ou pelos seus crimes deveriam parecer nas pontas das Zagáias; e por isso a conservação dos estabelecimentos de Portugal naquela costa é absolutamente necessária para o Brasil: e suposto Portugal tenha ali perdido alguns, contudo ainda possuí muitos, e talvez os melhores para o comércio do resgate dos escravos. (pp. 95-96)

§ XI. Na África possui Portugal os fortes de Cacheu, Bissau e outros sobre o riu de Gâmbia, na Costa da Negrícia, onde se faz um importante comércio do resgate dos escravos para se transportarem para a América. Uma colônia em Malagueta na Costa da Guiné. No reino do Congo, onde ha riquíssima minas de ferro, Portugal não só é senhor da capital de São Salvador de Loango, de Embaca, de Cabinda sobre a costa, e de outras partes; mas também de todo o seu comércio com exclusão das outras nações. No reino de Angola da mesma sorte possui São Paulo de Loanda e Benguela. (pp. 96-97)

§ XII. Além do grande comércio do resgate dos escravos que faz Portugal na Costa de Angola, tem de mais muitas comodidades, que não tem os estrangeiros; porque os escravos vindos do interior das terras de mais de 100 léguas, chegam a Costa muito magros e muito fracos. O uso dos portugueses é de os fazer curar e nutrir antes de os embarcar, e tomam precauções para que se conservem são a bordo; o que tudo concorre para que morram poucos na travessia da Costa de África para o Brasil. (pp. 97-98)

§ XVII. Na costa de Zanfuebár é Portugal senhor da importante e rica praça de Moçambique. O comércio daquela costa está naturalmente ligado com o de Goa; a maior parte das mercadorias que para ali são próprias, se tiram da Índia: as da Europa tem ali pouca saída. O ouro, o marfim, e os escravos que dali se tiram são artigos muito vantajosos na Índia, e por isso os navios de Goa podem aperfeiçoar o sortimento das suas carregações no tempo da sua demora em Moçambique. (p. 101)

Além das despesas necessárias ainda se fazem muitas por falta de método na construção das fornalhas das caldeiras, em que se purificam os caldos para o açúcar. E suposto já em alguns engenhos, como vi no Rio de Janeiro se fazem as fornalhas com algum método, formando uma abóbada sobre a qual estão assentadas as taxas dividida em suas parte por um crivo de tijolos, que serve não só para ter sobre si a lenha, que conserva a chama; mas também para dar passagem as cinzas que caem para a parte inferior da abóbada chamada vulgarmente cinzeiro; contudo ainda tem muitas imperfeições que é necessário remedias, para se evitarem os muitos desperdícios de lenhas, dos serviços dos escravos que as cortam e dos bois, que as conduzem. (p. 141)

Em qualquer gênero de agricultura um escravo não trabalha mais de doze horas por dia na fábrica de açúcar, trabalha dezoito horas seguidas: estre trabalho por sua natureza excessiva abrevia a vida dos escravos, extingue nos pais e nas mães o germe da propagação, a qual, aliás, é um dos maiores socorros para o serviço das mesmas fábricas. V. Labat d. tom. 3. chap. 5. du sucre pag. 209. (nota de rodapé número 8, p. 144)

Portugal que primeiro descobriu a Costa de África, ainda hoje conserva as melhores colônias dos resgates dos escravos que lhe produzem braços com menos despesas do que as outras nações. O Brasil está defronte de África, comunicando-se por uma navegação mais breve, e em todos os tempos do ano: o que tudo, dadas as mesmas proporções, produzirá mais em nosso favor uma outra terça parte. (p. 149)

Páginas

11, 19, 39, 57, 58, 95-96, 97, 98, 101, 141, 144, 149.

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