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GUSMÃO, Alexandre de. 1629-1724.

Sobre o autor

Alexandre de Gusmão, padrinho e amigo da família do renomado diplomata e escritor Alexandre de Gusmão (seu homônimo), nasceu em Lisboa em 1629 e morreu, recluso e com fama de santo, no seminário de Belém da Cachoeira, na Bahia, em 1724. A sua vida no Brasil começou em 1644, quando se transferiu com a família para a colônia e iniciou os seus estudos na cidade do Rio de Janeiro, ingressando na Companhia de Jesus em 1646. A partir daí, foi longa e profícua a sua vida na instituição. Depois de fazer a profissão solene em 1664, foi Mestre de Noviços, Reitor dos Colégios do Espírito Santo e da Bahia e Provincial por duas vezes. Para além das atividades administrativas na Companhia, Gusmão foi um educador atuante e um escritor bastante ativo, que conseguiu publicar — o que não era tarefa fácil na época — muitas de suas obras, entre as quais duas que experimentaram um relativo sucesso no seu tempo: História do Predestinado Peregrino (1682), uma pioneira novela escrita no Brasil, que suscitou uma tradução espanhola, publicada na cidade de Barcelona em 1696; e Arte de criar bem os filhos (1685), um então bem acolhido manual de educação cristã.

Obra(s)

1. Escola de Belem. Jesus nascido no presépio. Dedicado ao patriarca S. Ioseph. Pelo P. Alexandre de Gusmão da Companhia de Jesu da Provincia do Brazil. Evora: Na Officina da Universidade, Anno M. DCC. XXXV. (1735)

2. Historia do Predestinado Peregrino, e seu irmam precito em a qual de baxo de huma misteriosa parábola se descreve o sucesso feliz do que se há de salvar, & infeliz sorte do que se há de condenar. Dedicada ao perecrino celestial S. Framcisco Xavier apostolo do Oriente Composta pello P. Alexandre de Gusmam da Companhia de IESV, da Provincia do Brazil. Evora: Na Officina da Universidade, Anno de 1685. (1685)

3. Arte de criar bem os filhos na idade da puerícia. Dedicada ao menino de Belém Jesus Nazareno. Composta pelo P. Alexandre de Gusmam, da Companhia de Jesus do Brazil. Lisboa. Na Officina de Miguel Deslan. (1685)

Menções ao negro e ao escravo

1.

Porém, fazendo-se este sapientíssimo mestre menino para nos ensinar o desprezo do mundo, que outra coisa nos quer dizer, senão que nos iremos de haver neste mundo como se hão os meninos para todas as coisas que o mundo ama e estima? Os meninos, diz S. Basílio de Seleucia, nenhum cuidado tem de riquezas, nem ambição de dignidades; nenhuma glória da geração ou termos da fidalguia; vereis ao pobre e ao rico, ao nobre e ao peão brincarem juntos sem distinção, vereis ao senhor e ao escravo ao colo da mesma ama, e mamando na mesma teta; tanta estimação fazem da peça de ouro, como da peça de latão, e talvez estimam mais o assovio de chumbo, que o trancelim de diamantes, assim tem o homem naquela idade limpo afeto e pura intenção de toda a vaidade. (pp. 89-90)

Um escravo fugitivo poderá fugir de seu senhor quando o busca, mas de outro escravo fugitivo como ele não; em forma de escravo nasce e como escravo fugitivo te busca, não tens que fugir, nem que temer; homem pecaor que, para que não receies engano, também te busca em traje de pecador [...] (p. 99)

2.

Para moderar as demasias do primeiro sentido do gosto, que é um escravo da casa mal criado, me valho das primeiras duas filhas Abstinência e Sobriedade, as quais por meio destas duas criadas, Discrição e Mortificação, moderam as demasias da mesa e da garrafa. (p. 220)

Que importa a um escravo trabalhar todo o ano sem cessar, se é contra a vontade de seu senhor. (pp. 305-306)

3.

Não menos temerosa é a história seguinte ao mesmo intento. Uma irmã do Santo e Apostólico Varão São Vicente Ferreira concebeu de um seu escravo negro que, atrevida e aleivosamente, com um punhal no peito lhe havia feito força. Vendo-se daquela sorte a triste senhora, temendo a sua desonra e a justa indignação do marido, matou com peçonha o escravo culpado e atrás dele a criança inocente. Confessou seu pecado e arrependida morreu; depois de morta apareceu a seu Santo irmão feita toda uma ascoa (sic) de fogo com um negrinho nas mãos, ao qual comia e vomitava de contínuo com mostras de grande aflição. Admirado o Santo lhe perguntou por sua sorte e o segredo do negrinho: ao que respondeu a defunta que ela estava condenada a penas do Purgatório até o dia do juízo, pelos dois homicídios que havia feito, de pai e filho, e que em pena da morte do filho, que concebera do negro seu escravo, ordenara a Divina justiça que na forma daquele negrinho o estivesse comendo e vomitando até o fim do mundo. Compadecido o Santo das penas de sua irmã, que muito amara, lhe perguntou se havia algum remédio para que ela tivesse alívio de tão intoleráveis tormentos. Ao que respondeu a alma que se ele se afligisse e se sacrificasse por ela, usaria Deus de sua misericórdia, dizendo isto desapareceu a alma, e o Santo fez muitas penitências e disse muitas Missas por ela, depois das quais lhe apareceu gloriosa, dando-lhe as graças porque por suas orações Deus lhe havia condonado (sic) as penas que padecia (pp. 107-109)

Quanto ao mentir, diz Aristóteles, ser vício próprio de escravos; deve ser logo muito alheio de meninos bem criados; e se os meninos se costumam de pequenos a mentir, não terão diferença dos escravos (p. 227).

Páginas

Obra 1: 89, 90, 99;
Obra 2: 220, 305, 306.
Obra 3: 107-109, 227.

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